Game Girls | Quando o controle também é delas

O documentário Game Girls, da diretora e roteirista Saskia Sá, chegou aos cinemas brasileiros em 22 de maio de 2025, e com ele veio também uma cutscene poderosa da vida real: a das mulheres que vivem, transformam e resistem dentro da indústria dos games. Com uma estética híbrida, que mistura animação 3D, ambientes simulados e depoimentos em vídeo real, o filme é conduzido por Mega, uma personagem transumana que vive no metaverso e que, como muitas de nós, começa a enxergar o mundo gamer com outros olhos ao ouvir tantas vozes que ficaram tempo demais no mute.

Ao longo de 70 minutos, o longa faz um respawn da história das mulheres nos jogos: das pioneiras como Jane Jensen e Brenda Romero às desenvolvedoras contemporâneas, jogadoras de eSports, streamers, designers, pesquisadoras, locutoras e organizadoras de torneios. Mais do que um acervo de depoimentos, Game Girls é uma jornada de level up coletivo, onde cada fala carrega XP e também cicatrizes.

O metaverso da Mega, o mundo real das meninas

A escolha de Mega como guia dessa aventura é um dos acertos criativos do documentário. Não apenas por aproximar o conteúdo do público adolescente (foco da produção), mas por ser ela mesma um símbolo de transgressão, fluidez e reinicialização. Enquanto a personagem tenta entender esse tal “mundo real”, quem assiste percebe que, por mais virtual que pareça, o universo dos games é feito de carne, osso e muita luta.

O doc não foge das pautas difíceis. Fala-se de misoginia, assédio, exclusão e desigualdade — mas não se limita a isso. Há brilho nos olhos ao mostrar iniciativas como o AfroGames, o coletivo Wakanda Streamers, o Transcurecer, e tantas outras formas de existência que quebram a hegemonia do “gamer padrão”.

Um glitch no passado, um patch pro futuro

Uma das reflexões mais potentes do documentário vem de uma contradição real: games são, por natureza, um espaço misto. Não há vantagem física, não há categorias separadas e ainda assim, é preciso criar torneios femininos para garantir visibilidade e segurança. A explicação? Preconceito, exclusão estrutural e uma indústria que durante décadas mirou só em “meninos”.

Como lembra a diretora Saskia Sá, as mulheres sempre estiveram ali — jogando, criando, organizando. Foram protagonistas na gênese dessa indústria, e só depois empurradas para os bastidores. Game Girls não é só sobre representatividade, é sobre reescrever o lore de uma cultura que, por muito tempo, fingiu que elas não existiam.

Inspiração que atravessa a tela

Ao final da sessão, o que fica é mais do que denúncia, é inspiração. A sensação de “se elas chegaram lá, eu também posso chegar” ecoa forte, como um checkpoint emocional. O documentário cumpre seu papel: iluminar trajetórias, mostrar caminhos e deixar claro que o joystick da mudança está, cada vez mais, nas mãos das mulheres.

E como disse Luciana Druzina, CEO da Druzina Content: “A força, a competência e o conhecimento dessas mulheres são o que dá o tom do documentário.” Game Girls é, acima de tudo, um convite. A jogar, a criar, a resistir e a continuar apertando Start, mesmo quando a tela parece escura.

Game Girls é essencial. Um documentário que deveria ser exibido em escolas, mostras de cinema e fóruns de tecnologia. Não apenas pela sua importância histórica, mas por lembrar que os games, quando feitos e jogados por todas as pessoas, são muito mais do que diversão, são ferramenta de transformação. O documentário já está em cartaz nos cinemas.

Neto Verneque

Autor /

O corpo do Mario. A sociabilidade do Link. A fome do Kirby. E tão vencedor na vida quanto o Ash Ketchum.

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