Espada, honra e amor: a verdade LGBTQ+ dos samurais como em Assassin’s Creed Shadows
A história da franquia Assassin’s Creed tem evoluído constantemente rumo à inclusão e diversidade, criando personagens e narrativas mais representativas ao longo dos anos. No recente lançamento, Assassin’s Creed Shadows, ambientado no Japão feudal, jogadores têm a oportunidade de explorar relacionamentos LGBTQ+ com os personagens Yasuke, baseado em uma história real, e Naoe.
Aquela galera do mimimi incel ficou com a cabeça vermelha de tanta raiva ao ver essa storyline – opcional, diga-se de passagem – no jogo, contudo, essas representações não são invenções modernas destinadas somente à inclusão. Historicamente, o Japão feudal, especialmente no período Edo (1603-1868), possuía uma visão bastante diferente sobre relacionamentos homoafetivos. Termos como wakashudo (若衆道), “o caminho dos jovens”, e nanshoku (男色), “cores masculinas”, eram utilizados para descrever as relações entre homens, que frequentemente ocorriam entre samurais, monges budistas e posteriormente entre atores kabuki.
Originalmente importado da China através do Budismo, o conceito de nanshoku descrevia relações entre um monge mais velho (nenja) e um monge mais jovem (chigo). Conforme detalhado pelo historiador Gregory M. Pflugfelder, tais relacionamentos combinavam elementos físicos e emocionais e não eram vistos necessariamente como negativos ou imorais, mas sim parte de um contexto cultural e filosófico maior.
Durante o período Edo, especialmente entre os samurais, o wakashudo tornou-se algo comum devido ao ambiente militarista predominantemente masculino. A ausência feminina nos campos de batalha e castelos fez com que relações entre samurais mais velhos e mais jovens fossem vistas não apenas como naturais, mas também benéficas em termos de mentoria e lealdade.
Obras literárias famosas como The Great Mirror of Male Love, de Ihara Saikaku, exploram essas relações abertamente, demonstrando que o conceito não era tabu na época, mas sim aceito e até valorizado como uma forma sofisticada de relacionamento social.
O historiador brasileiro especializado em sexualidade masculina no Japão pré-moderno, conhecido nas redes como @ekatonokto.bsky.social, apresenta uma extensa thread sobre o tema usando a tag #sengokushiba, onde detalha casos históricos de relacionamentos entre samurais famosos, como Takeda Shingen e Kousaka Masanobu, além de trazer um olhar profundo e contextualizado sobre a naturalidade com que essas relações eram encaradas naquele período.
Em Assassin’s Creed: Shadows, a Ubisoft busca refletir parte dessa realidade histórica ao possibilitar romances LGBTQ+ para seus personagens principais. Apesar das críticas, essa escolha reforça a autenticidade histórica do jogo e promove representatividade em um mercado ainda em expansão.
Convidamos todos a explorarem ainda mais sobre o fascinante tema da homossexualidade no Japão feudal através das fontes históricas mencionadas e acompanhar o trabalho detalhado de historiadores como @ekatonokto.bsky.social. Compreender o passado pode nos ajudar a reconhecer a importância da representatividade e diversidade nos dias de hoje.
Fonte: Pink News & All About Japan