Review | Haunted ROM: The Lost Cartridge
Haunted ROM: The Lost Cartridge é uma daquelas experiências que parecem ter saído direto de uma creepypasta dos anos 2000: um cartucho amaldiçoado com dez jogos diferentes, todos embalados na estética retrô de horror dos anos 80 e 90, recheados de glitches, falhas intencionais e aquele ar desconfortável de algo que não deveria estar rodando na sua máquina.
A proposta é ousada: reunir 10 mini-jogos single e multiplayer, cada um explorando um subgênero do terror clássico, de RPGs táticos a experiências em primeira pessoa, passando por arenas caóticas de multiplayer local. Tudo isso conectado por uma narrativa oculta, que se manifesta em bugs, erros visuais e sons corrompidos, sugerindo que há algo “além do código” tentando escapar.
Nostalgia amaldiçoada
É impossível não se sentir em uma locadora esquecida dos anos 90, pegando uma fita estranha com capas duvidosas. Os visuais variam entre pixel art, low poly e interfaces toscas de propósito, reforçando o clima de algo que mistura paixão indie e charme de fita pirata. O detalhe é que, assim como naquela época, nem tudo funciona como deveria: alguns jogos são divertidos e bem construídos, outros parecem protótipos não finalizados.
Entre os destaques está NULLand, uma experiência em primeira pessoa com clima de escape room, em que você precisa agradar (ou enganar) uma entidade que fala com você pela TV. Há um limite de sete dias in-game para desvendar segredos, e isso cria uma tensão genuína. Já Cult of Ascension surpreende como RPG tático com progressão roguelite, enquanto Spider Arena funciona bem como party game caótico. Por outro lado, certos títulos soam mais como experimentos inacabados, perdendo o impacto.
Atmosfera e glitches como narrativa
O grande trunfo de Haunted ROM está na forma como usa os glitches intencionais como parte da experiência. Travadas, chiados de áudio e distorções na tela não são apenas bugs: são pistas da história maior que conecta os jogos. Isso dá um ar de metanarrativa interessante, quase como se o cartucho em si fosse o verdadeiro antagonista.
A sensação de navegar pelo menu inicial e escolher qual “fita” rodar lembra muito antologias como Dread X Collection, mas com um foco ainda maior na metalinguagem e no desconforto técnico.
Mais experimento do que jogo completo
No fim, Haunted ROM se posiciona mais como uma experiência experimental de horror interativo do que como uma coletânea de jogos sólida. É divertido explorar, especialmente para quem gosta da estética creepypasta e do terror digital, mas dificilmente alguém vai jogar todos os títulos com profundidade.
O charme está no conceito, mais do que em sua execução técnica: apoiar a cena indie, revisitar a nostalgia retrô e brincar com a ideia do cartucho amaldiçoado. Como produto, pode frustrar quem busca algo polido e consistente, mas como curiosidade, tem seu valor.
Veredito Final
Haunted ROM: The Lost Cartridge é um tributo estranho e fascinante ao terror retrô: parte jogo, parte experimento, parte creepypasta. Ele funciona melhor como peça de nicho para fãs de horror digital e colecionadores de experiências esquisitas, do que como uma coletânea robusta para jogatinas longas.
É aquele tipo de fita amaldiçoada que você joga mais pela curiosidade e pelo charme nostálgico, do que pela consistência. Para quem curte apoiar o indie nacional e experimentar ideias diferentes, vale a viagem. Para quem busca um terror polido e profundo, talvez seja melhor procurar em outro cartucho.
[Nota do Editor: Haunted ROM: The Lost Cartridge foi analisado a partir da sua versão para PC via Steam. A cópia do jogo foi gentilmente cedida pela Keymailer para avaliação.]