Entrevista | Luciana Druzina, CEO da Druzina Content, fala sobre o documentário Game Girls e as mulheres na indústria
Diversos projetos da produtora Druzina Content tem como tema a questão de gênero e do protagonismo feminino, uma dessas produções é o documentário longa-metragem Game Girls, dirigido por Saskia Sá, ele é uma coprodução entre a Druzina Content e a Horizonte Líquido e está em fase de pós-produção, com previsão de lançamento no segundo semestre de 2023 durante o circuito de festivais.
O longa já traz uma protagonista feminina de animação chamada Mega que conduz o tema, interagindo com as entrevistadas e abordando o tema de uma forma leve e divertida. Com foco no público adolescente, Game Girls mostra o universo dos games com depoimentos de mulheres de diversas partes do mundo, em diversos setores da indústria, temos desenvolvedoras, gamers, jogadoras de e-sports e tantas personalidades mundiais como Jane Jensen, Brenda Romero, Cara Ellison e Limpho Moeti.
A produção, que também contou com uma equipe técnica composta em sua maioria por mulheres, trata de temas como a participação histórica de mulheres como jogadoras, criadoras e desenvolvedoras, a evolução das personagens femininas nos jogos e o machismo do mundo geek. Conversamos com Luciana Druzina, CEO da Druzina Content, que nos falou ainda mais sobre a produção:
Rainbow Road: Olá Luciana, prazer. Conte-nos um pouco mais sobre como surgiu a ideia do doc Game Girls.
Luciana Druzina: Olá pessoal do Rainbow Road, meu nome é Luciana Druzina e eu tô aqui pra falar um pouquinho do Game Girls, um documentário que nós estamos produzindo que está em fase de finalização com uma coprodução da Druzina Content com a Horizonte Líquido dirigido por Saskia Sá, escritora e roteirista também. Pra gente é um prazer estar aqui falando com vocês sobre isso, compartilhando nossa experiência também.
Pra gente o mundo dos games é um universo muito rico de experiências imersivas que atravessam as telas e influenciam outros setores da vida contemporânea. E as mulheres fazem e fizeram parte desse universo desde o início, desde começo da era dos games com grandes profissionais que revolucionaram a indústria com suas criações como Brenda Romero e Jane Jensen, por exemplo. Porém, conforme a indústria crescia e alcançava patamares econômicos mais elevados, as mulheres começaram a ser excluídas, começaram a a sofrer as mais diversas exclusões.
E investigar esse fenômeno social sobre a perspectiva das mulheres se tornou um objetivo das nossas produtoras. Já que tanto a Horizonte Líquido quanto a Druzina Content trabalharam com outros produtos audiovisuais que privilegiam o protagonismo feminino e também as mulheres em nossas equipes.
Esse tema do protagonismo feminino e as questões estruturais sociais que não devem ser repetidas em narrativas são constantemente aprimorados e discutidas em nossas produções. E a gente tem total consciência do nosso compromisso na formação de uma sociedade mais plural, além de estimular e inspirar outras mulheres da indústria e principalmente no caso deste documentário, como é um documentário focado num público adolescente, essa formação dessas novas plateias.
A ideia do documentário não é de ser um documentário denunciativo. Sim, a gente tem as denúncias, temos as barreiras que as mulheres passaram, mas também ser um documentário que seja inspirador pra trazer esse olhar pra que as meninas que estejam assistindo, as garotas que estejam assistindo, também olhem assim, ‘se elas chegaram lá eu também posso chegar’.
E mostrar a história dessas mulheres tão maravilhosas, tão batalhadoras que estão nessa indústria até hoje. Desde mulheres históricas, como desenvolvedoras, às mulheres atuais, às jogadoras de e-sports, as pesquisadoras, todas as mulheres da indústria mesmo.
Rainbow Road: Como foi mergulhar ainda mais nesse mundo gamer feminino no Brasil?
Luciana: Então, foi muito natural, até porque tanto eu quanto [a diretora] Saskia, a gente tá trabalhando na indústria do games. Saskia como Narrative Designer e eu como Game Designer atualmente. Eu comecei trabalhando na indústria dos games como produtora, junto com outros estúdios fazendo essas coproduções de alguns games que tinham homens em cargos de game designer e agora tá tendo essa oportunidade de a gente tá fazendo nossos próprios games também e é muito gratificante e muito mais gratificante escutar toda essa história e trazer à tona tudo isso que a gente tá vivenciando, Atualmente.
Além disso em um documentário voltado pro público adolescente, Infanto-juvenil que é um público que a gente adora trabalhar. É um público que a gente já tem outras produções então foi muito natural trazer isso, criar um produto audiovisual inspirador para as novas gerações de meninas e meninos.
Foi bastante interessante e revelador conhecer histórias de mulheres tão diversas atuando no mundo dos games, não só no Brasil como em outros países, porque a gente acabou gravando depoimentos de pessoas dos Estados Unidos, Irlanda, Escócia, África do Sul, Portugal além, é claro, do Brasil.
A gente conseguiu conectar e e pegar depoimentos de mulheres profissionais da indústria, garotas jogadores de e-sports e personalidades da indústria histórica mundial dos games. Como a própria Brenda Romero, que já citei antes, que começou com quinze anos na indústria dos games, desde 1980, e trabalhou em empresas como Atari, Eletronic Arts e muitas outras e foi ganhadora inclusive de diversos prêmios, inclusive de um Bafta.
Ou a Jane Jensen que cofundou diversas empresas de games e também foi conhecida por ser criadora da série de jogos de aventura Gabriel Night que por um acaso eu jogava quando eu era adolescente e eu não sabia que era desenvolvido por uma mulher.
A gente também gravou depoimentos com jogadoras de e-sports como Emmalee “EMUHLEET” Garrido, que se tornou uma das melhores profissionais de e-sports femininos ganhando cinco vezes o campeonato mundial.
Falamos também com a Cara Ellison que é uma escocesa jornalista e também desenvolvedora de jogos que passou um ano viajando, dormindo em sofá de pessoas da indústrias do games, enquanto pesquisava sobre elas e disso surgiram dois livros bem interessantes e ela conseguiu passar um pouco dessa questão social, também, dessa visão da mulher na indústria dos games pra gente.
Além de outras como a Limpho Moetti que é uma desenvolvedora de jogos que é produtora no primeiro estúdio africano que teve um jogo rodando num console da Nintendo.
E claro as brasileiras maravilhosos como Sher Machado que é do Transcurecer, uma jogadora de e-sports e streamer, membro e fundadora do Wakanda Streamers. A Gabi Evellyn, que é uma jogadora de um projeto incrível que é AfroGames. A Flávia Gasi, que é uma pesquisadora, professora e escritora da indústria dos games e a maravilhosa Anne Quiangala que é streamer e fundadora do blog Preta, Nerd & Burning Hell.
A gente compreende que essas situações de misoginia ocorrem praticamente com todas as mulheres, não importando a idade, a função, a situação econômica, a geolocalização, ou em que setor elas trabalham, no desenvolvimento ou na pesquisa, se nos e-sports ou apenas usam game como entretenimento. Porém, não foi só isso que nós descobrimos, a gente descobriu também a força, a competência e o conhecimento dessas mulheres. E assim como seu olhar de esperança e o que acabou contaminando e se inserindo também no tom do documentário. E vem dentro daquela nossa proposta que é inspirar outras mulheres e inspirar principalmente o nosso público que a gente tá trabalhando dentro do documentário que é o público adolescente.
Rainbow Road: Qual a lição ou o sentimento que produzir esse doc trouxe para você?
Luciana: Nos últimos anos, o setor de jogos eletrônicos um crescimento exponencial na presença de mulheres como desenvolvedoras, game designers, chefes de programação e em diversas funções na indústria. Mas infelizmente a desigualdade salarial entre homens e mulheres ainda existe e é muito visível.
E há outras dificuldades a serem enfrentadas como, por exemplo, a discriminação, o assédio sexual e a própria desvalorização das profissionais. Por isso é tão importante a gente dar essa voz, mostrar, ter essas trocas e ter instrumentos de comunicação, de arte, de audiovisual que a gente consiga trazer essa informação. E a partir do que a gente conseguiu investigar no universo retratado no filme, a gente acredita que as mulheres estarão cada vez mais representadas nesse mundo, ocupando mais espaços de direção, no desenvolvimento e nas competições das mais variadas funções de streamers, de jogadoras, de produtoras dos eventos. Então as nossas empresas acreditam nessa força feminina, tão diversa, que está cada vez mais presente assim e atuante no mercado brasileiro e também no mercado mundial de games.
Rainbow Road: O que mais você pode nos dizer sobre o doc? E sua paixão sobre o assunto e esse projeto?
Luciana: O documentário ele mistura animação com imagens reais. A gente está muito feliz com essa estética que estamos trazendo e também trazendo esse retrato tão abrangente em termos de mulheres tão diversas dedicadas a indústria dos games. Com falas tão ricas e potentes.
A gente ainda tá mais felizes por ter optado um caminho da direção do documentário de Saskia que definiu ter uma linguagem mais híbrida da mistura realmente da animação com o documentário, com esses depoimentos em imagem real. O documentário é apresentado pela Mega, uma transumana que vive num metaverso. Isso tudo retratado em animação. A Mega fica muito intrigada ao ver o depoimento de tantas mulheres da indústria dos games e ao mesmo tempo se sente inspirada com as trajetórias delas.
Então acreditamos que ela condiga estabelecer um diálogo interessante com o público do filme, tentando tornar mais fluída e leve a história que a gente tá contando, que a gente tá passando, apesar do tema ser tão sério.
Eu acho que a gente tá tentando traduzir ele de uma forma um pouco mais divertida, tendo a certeza que a gente vai conseguir inspirar esse nosso público.
A minha paixão dos games vem desde pequena. Desde pequena eu sempre convivi com os games desde Atari, até Xbox, fliperamas e PCs etc. Sempre foi muito fascinante. Profissionalmente eu comecei na indústria do audiovisual na área da animação e de conteúdos também infantis, Antesa de ir pro Live Action e outras áreas. Então foi muito natural trabalhar com esse público e da animação para os games que eles caminham muito próximos né.
E pra mim agora, eu estou muito feliz, eu trabalhei muito, atuei muito fazendo coprodução com outros estúdios e a gente está lançando agora nosso próprio game solo que é o Winged e estamos muito encantados com o resultado. Acreditamos que agora no segundo semestre a gente vai lançar, a gente já está nos últimos testes do game e foi muito legal porque a gente conseguiu ter nesse game, que estava com a nossa produtora, uma equipe majoritariamente de mulheres. Toda a equipe gerencial também de mulheres.
A gente fez uma parceria com um estúdio chamado Sorora Game Studio, que é um estúdio de desenvolvedoras mulheres também, então o resultado vocês vão ver em breve e a gente está muito feliz com isso. Sou muito apaixonada por esse por esse universo.
É legal também divulgar pras meninas que tão entrando agora na indústria dos games, que a gente tem algumas associações como a ABRAGAMES, eles tem um conselho da diversidade e eles também fomentam através de um selo da diversidade que vocês podem pesquisar no site da própria ABRAGAMES, que é a Associação Brasileira de Desenvolvedores de Jogos Digitais, dando oportunidade e incentivo pras empresas terem práticas e iniciativas de promoção de valorização, igualdade e diversidade no mercado da produção de jogos. Eu acredito que isso seja bem interessante também de nos dar uma uma segurança também que é o que a gente busca ter também nisso.
E aqui no Sul a gente tem também a ADJogosRS, que é a Associação dos Desenvolvedores de Jogos Digital do Rio Grande do Sul e a gente também faz parte desse conselho da diversidade aqui. Então a gente tem uma rede de apoio, e quem está começando podem estar buscando dentro dessas associações também essa rede de apoio.
E foi um prazer falar com vocês, fico à disposição, e espero que a gente pode conversar novamente ainda no lançamento do filme. Um grande abraço.
Druzina Content é uma das contempladas com o Selo da Diversidade da Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais) que visa destacar boas práticas de empresas com iniciativas de promoção, valorização e incentivo à igualdade e à diversidade no mercado de produção de jogos, através do reconhecimento de determinadas ações consideradas de impacto no cenário atual brasileiro.
Também faz parte de associações, como ADJogosRS (Associação de Desenvolvedores de Jogos Digitais do Rio Grande do Sul) e integra o Comitê da Diversidade, onde são discutidas várias práticas e trocas no que tange também a participação das mulheres na indústria dos games.
Game Girls é uma produção Druzina Content e Horizonte Líquido com previsão de lançamento para o segundo semestre de 2023. Saiba mais sobre o jogo Winged por este link.